quarta-feira, 18 de março de 2015

RABISCANDO: Campainha

RABISCANDO: Campainha

sexta-feira, 13 de março de 2015

RABISCANDO: Campainha

RABISCANDO: Campainha

sábado, 22 de fevereiro de 2014


segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

              Imersão

A chuva dá os primeiros pingos
Os pássaros se aninham a dois
No curral se juntam os bois
As galinhas chamam os pintos
Os galos se arregalam com o trovão.
O gato, a cada relâmpago um susto
Alvoroçado nem faz causo do cusco
Dos porcos se ouve grunhidos
Seria comemoração... Ou medo da inundação.
Como é bom observar o movimento
Causado pela mudança do tempo
Depois de semanas de sofrimento
Água pra lavar a alma, e dar vida ao rio.
Até o vivente, antes acabrunhado
Faz um mate e toma entusiasmado
Compara fases da vida com o estio.
Tantos desertos para serem cruzados
Penosos mas ao chegar ao outro lado

Vimos que valeu a pena ter lutado!

sábado, 23 de novembro de 2013

         Carranca


Nos barcos do São Francisco
Eu conheci as carrancas.
Instaladas soberbas nas proas
Faz as almas penadas a afins
Assombrações e coisas ruins
Respeitarem o cenho franzido
De olhos grandes e dentes compridos
Ficarem quietinhas na retranca.
Um velho pescador me contou
Jurando por sua felicidade
Estar dizendo a verdade
Que certa feita numa navegação
A carranca de sua embarcação
Espantou até o cramulhão
Que sumiu correndo na barranca!

Uma destas veio comigo
Pois se coisa ruim afasta
Não custa se precaver.
Olhando a criatura estes dias
Fiquei a pensar comigo
Se no rio livra os perigos
Na terra como há de ser.
Miro-a e ela me olha
E inspiro-me no seu semblante
Não que ache parecida comigo
Porem assim a vagar eu sigo
Como um carrancudo andante.



sábado, 12 de outubro de 2013

Riacho

Onde cresci corria um riozinho
Calmo, ziguezagueando nos campos
Nas pedras fazendo carinho
Ou embalando nas corredeiras
Açoitando os caetés da beira.
Numa curva um poço se formava
Água tão límpida que no fundo se avistava
Os lambaris faceiros, intrépidos ligeiros
E as avencas teimosas que são
Na luta por deixar verde a barranca
A cada enchente castigada pela erosão.

Eu guri nadava naquela água cristalina
As primeiras braçadas de pura adrenalina
Coisas boas dos tempos idos
Dias alegres outros meio sofridos
Livre por crescer sem alambrado
Ou carente na ausência de um costado
Mas como a água que busca seu caminho
Crescemos e seguimos nossa jornada
A cada dia uma partida, ou uma chegada
Depositando na conta do crescimento
Os desalentos que rondam por momentos
                  Contingência

Andei...
Ao acaso
Por aí buscando
Pois melhor se conhece
O caminho é caminhando,
E a cada dia esperanças renovando.
Refleti...
Desvendei que o rio,
Entrega  sua água ao mar
E mesmo assim nunca fica vazio!
Voltei...
Um mate,
Uma espera,
Um novo anseio
A cada vulto na vidraça.
Coração dispara... Depois quase para,
Pois se depara, com a verdade que passa.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Lavadeiras

Como nas barrancas dos grandes rios
No São Francisco não é diferente
Pois em suas corredeiras de pedras aparentes
Elas surgem aos poucos cansadas
Com suas trouxas na cabeça equilibradas
No rosto o retrato, a manchete de cada relato.
Uma bate raivosa a camisa na pedra molhada
Por uma traição retratada, com batom na gola marcada.
Outra acaricia a roupa e suspira
Pois o colarinho que agora admira
Faz lembrar a noite anterior
E sonhar com as próximas que virão
Pois a camisa de sua grande paixão
É lavada com amaciante sem cor
Porém tem o mais delicado amor
Que habita forte em seu coração.
Umas costumeiras nem tem roupa suja
Fazem uma trouxa em busca de assunto
E assim disfarçam o isolamento
Numa ação coletiva de compartilhamento
Lavam as roupas e a alma junto!

Em Pirapora

É comum ao andarmos por outras paragens vermos aquelas placas de bem vindo pelo caminho, e tem quem segue ao pé da letra. Andando nas Minas Gerais dei de cara com o tal feijão tropeiro, e como sou curioso por comidas típicas fui logo experimentando. Feijão vermelho, pedaços de linguiça, temperos misturados numa farofa molhadinha e generosos pedaços de toucinho frito que de tão crocantes se desmancham na boca. Ah! E ainda por cima um ovo frito na gordura do bacon. De lamber os beiços! Noutro dia cedo dei logo de cara com outra iguaria feita por dona Izabel para o café da manhã: Um legítimo cuscuz de milho. O cuscuz ainda quente é servido em fatias e se passa por cima uma generosa porção de manteiga que logo se derrete. Não tem dieta que resista. Hoje estive pensando que nem deu tempo pra ter saudades do Rio Grande. Temos a fama de ser hospitaleiros, mas a cordialidade do povo mineiro não fica pra trás. Encerro esta degustando iscas de tucunaré e curimatã enquanto admiro as corredeiras do rio São Francisco.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Empecilhos

Coração sem rumo, qual um barco à deriva

Esperando uma brisa para inflar suas velas

Olhar perdido no mar procura avistar alguém

Que traga também, novo ar, novas quimeras

Coração que já amou, mas também muito sofreu

De receios se acometeu, para uma nova paixão

Desiludido, desconfiado, temeroso e carente

Espera amar novamente pra bater com força então


Coisa que preocupa um homem assim aflito

Tem no peito preso um grito, que libertaria sua dor

Mas bloqueado como está inseguro não se revela

Encontrá-la sempre protela, o sentimento não revela

A cura? Será que ela vem?Afligem certos pensamentos

Que dilaceram por dentro, alternando sofrer e sonhar

Nos devaneios constantes, carícias, beijos e abraços

Mas quando vai mirar seus traços, lamenta sempre acordar

sábado, 31 de março de 2012

Varanda

Altas horas da noite
A insônia por companheira
O vento balança a palmeira
Ouvindo uma canção brega
Passam as motos de tele entrega
Num ir e vir constante
Eu nesta inconstância
Devaneando reminiscências
Disfarçando as carências

No vinho companheiro
Encontro o fiel parceiro
Que me coloca indolente
A sonhar... Até contente
E nestas quimeras te encontro
Na mesma procura que eu
Entregamo-nos de forma insolente
Neste prazer convergente

Não obstante nestes instantes
Num deleite ofegante
Se o mundo acabasse ali
Final feliz pra mim e pra ti
Lembranças do que vem depois
Momentos intensos vividos assim
Tu sorrindo e matreira enfim
Pedíamos uma pizza para dois...

sábado, 3 de março de 2012

Enredo

O bloco do povo segue seu desfile
Na tresloucada dança da festa popular
Uns dançam outros fazem de conta
Mas o que conta nem é a conta
Pois esta fica pra depois
Que o samba acabar
Seguindo num mundo de utopia
Por detrás de tanta fantasia
Os problemas somem de repente
Assim sob o efeito desta anestesia
Entorpecidos numa overdose de alegria
Coisas ruins afastadas pra sempre

Mas...
Eis que a música pára, o povo se cala
Num epitáfio a realidade dá um sinal
Na dor a dureza. A reflexão e a certeza:
Um dia nos deparamos com a hora final
Nas idas e vindas da vida
Mais uma história vivida
Fica a saudade de um amigo leal
Pra não perder o costume
Brincalhão nos pregou uma peça
E justo no meio da festa
Faz sua última seresta

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Estimulante

A paixão é uma linha tênue
Que separa dois mundos
O sofredor há um segundo
No outro é um sonhador
Muda de pronto a atitude
E amiúde, por onde ande
Traveste-se de pregador
Invocando seguidores
A dissiparem suas dores
E desfazer suas penas
Dando um passo apenas
E andar nos caminhos do amor
Tantos olhares brilhantes
Nos mesmos olhos que antes
Viam as madrugadas cinzentas
Agora na noite mais escura
Há um sobejar de alvuras
Pelas miradas luzentes
A realidade não substitui os sonhos
Que seguem sendo sonhados
Agora a dois... Emparceirados...
Confiantes no futuro
A felicidade até se esbanja
Como duas metades da laranja
Que tinham um encontro marcado!

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Alvorada

Por levantar cedo demais
Preguei uma peça nos passarinhos
Ouviram meus passos pelo jardim
Enquanto nem tinham saído dos ninhos.
Ainda com sono dei ração para o cão sonolento
Estranhou o momento, mas se rendeu e comeu.
O gato deveras se surpreendeu
Pois sempre acorda antes que eu
Fitou-me esfregando os olhos e só então
Tranqüilizou... Não era assombração.
Nada demais acontece na parda madrugada
A não ser jovens voltando embaladas
Por terem se abalado nas baladas
Seus saltos marcando na calçada.
Uma balzaquiana na retaguarda
Levando a sandália a tiracolo
Roupa de festa, rosto maquiado
Pés desacostumados a tocar no solo.
Lanço um olhar furtivo, perigando até lascivo
Tanto me privo, pois é com a insônia que vivo.

sábado, 3 de dezembro de 2011

Infidelidade

Eu traí minha consciência quando
Jurei buscar a felicidade
Mas deixei a tristeza se aquerenciar.
Eu traí a mim mesmo quando
Olhava no espelho e jurava que um dia
Eu ainda teria, orgulho de mim,
Mas desanimava e caminhava rumo ao fim.
Eu traí minhas convicções quando
Defendia a luta da igualdade
Mas sucumbi ao fraquejar,
E ver injustiças e maldades
Sem ter atitudes pra evitar.
Eu traí meu amigo quando
Dizia que estava tudo bem,
Mas mal conseguia me aprumar.
Eu traí meu sono quando
Levava a insônia pra cama,
E ela ficava até o nascer do dia.
Mas também traí
Os algozes de plantão, abutres por vocação,
Ao imitar o fênix da mitologia,
Pois quando menos esperavam
Das cinzas eu ressurgia.
Por fim traí... Este coração
Quando disse que ele era só teu,
Assim não pode ser ele também é meu.
Necessito dele pra poder viver,
Pois vivo para amar você!

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Mateando

Ah chimarrão!
Com teu amargo feito doçura
Afagas uma alma inquieta
Que mesmo vivendo em aflições
Ajudas a não endurecer na amargura.
Só tu mesmo amigo e confidente
Acomodas minhas idéias
Enquanto ajeito as melenas
Extraviadas pelo vento
Na falta de alento a vagar na procura.

Vejo-me aqui mateando solito
Onde me encontro comigo
E assim unidos nesta parceria,
Sonhamos que ela um dia
Venha também matear
Então a felicidade vai fazer morada
O rancho vai ganhar vida
O amor vai se aquerenciar.
Numa declaração, abrirei meu coração
E quem sabe... Ela me dê esperanças
E tu chimarrão, faceiro ficará então
Pois as mateadas terão parceria
E esta solidão será uma vaga lembrança

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Nova página

Noite de insônia
O relógio não anda
A saudade desanda
Quero estar contigo
Andei meio indeciso
Mas antes foi preciso
Encontrar-me comigo
Lágrimas reprimidas
Rolavam nos vincos sofridos
De um semblante contido
Que se acostumou a sofrer
Nas altas horas da noite
Cada lembrança é um açoite
Chicoteando o mal viver
Mas, amanhã, depois, daqui a pouco
Amargura, solidão, sufoco
Serão história, serão passado
Tento driblar a ansiedade
Pra lidar com a felicidade
Desacostumado, coração acelerado
Agora passo o tempo
Contando o tempo
Eis que chega o momento
De um grande sonho ser realizado

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Piá

Menino crescido no interior
Pescando lambaris na sanga
Ou no campo colhendo pitangas
Um estilingue a mirar nas pombas
João de barro não se agredia.
Bola de gude “às ganha”
O lanche era pão com banha
E os bolinhos que a mana fazia.
Vivia cheio de sonhos
De um dia ser gente grande
Para poder fazer coisas de homem
E o tempo custava a passar.
Hoje com uma porção de anos
De alegrias, incertezas, desenganos
Dá uma vontade de voltar.
De vez em quando me vejo
Lá na sombra da figueira
A saudade por companheira
Vivenciando as lembranças.
Mas no futuro ainda sou crente
Pois me vejo no presente
Um adulto, com alma de criança!

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Semelhanças

Andando pela rua vi um homem triste
Acabrunhado, com o olhar fincado na solidão.
Trazia nos ombros, o peso de uma existência
Com um semblante repleto de carências
Cada passo que dava, parecia que ia afundar no chão.
O que teria deixado ele assim?
Notícias ruins... Um grande amor perdido?
Infortúnios que passamos, revezes que encontramos,
Que às vezes até achamos, não valer a pena ter vivido.
Pensei em falar que entendia sua dor
Por também já ter muito sofrido
Contar que porem depois de cada declínio
Ao levantar me sentia mais fortalecido
Dizer que mesmo que pesasse muito sua cruz
Não desanimasse, seguisse sua jornada.
Embora os obstáculos que surgissem em sua estrada
Pois sempre depois da mais sombria madrugada
Esperanças despontam, com novos raios de luz!

sábado, 24 de setembro de 2011

Expectativa

Tu... Embora distante
Sinto-te tão perto
Por um breve instante
Embora conflitante
Espero estar certo
Meu pensamento vai
Para alem dos sentidos.
Coração se manifesta
Jubilante em galopes de festa
Ecoando ao som de serestas
Feliz por estares vindo.
A chegada, cheia de sonhos
Tantos planos que se fez
Numa viagem que não termina
Ansiedade acompanha a sina
De quem vai ver-te menina
Pela primeira vez.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Diligência

De bar em bar, noite fria.
Rua nua, luz da lua.
Na tua procura sigo a vagar
Em cada ambiente
Coração pressente
Você pode estar
Depois que partistes
Desacertos, brigas, perfídias.
Sem chances de voltar
Soube que agora se vinga
Travestida de boêmia
Só pra me maltratar
Mas... Ao me deparar contigo
Súplicas não farei
Apenas quero dizer pra ti
Que suportei a dor
E pra teu amor
Não estou nem aí

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Tormentos



Mesmo faltando horas pro sol chegar, já estou esperando por ele, pois a insônia fiel e companheira não me deixou só. Minha vida não sai do lugar, mas minha cama gira sem parar. Borboletas de asas compridas se debatem em meu estômago, e em minha boca um gosto de cigarro vencido.
Cada vez que ouço passos na calçada, um fio de esperança me acalanta, mas só ficam para trás as vozes que mais parecem algozes a zombar de minha sina.
As feridas do corpo sempre se dá um jeito, mas o que fazer com este coração doído no peito. Parece que só ela tem o bálsamo para curar esta dor...
Mais um trago, e com ele um afago nesta alma em frangalhos. Brinco com o gelo que ficou no copo e lembro que um dia brinquei com ele em sua geografia. Encontro um laçinho caído de uma lingerie e ensaio um júbilo, mas desaprendi de sorrir.
Assim como o sol todo dia vem quem sabe ela também, andando em descaminhos me encontre sozinho. Então perdidos os dois, quem sabe não nos perdemos juntos depois.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Descaminho

Me perdi
E perdido me encontrei
Dizendo que era eu
Mas quem estava ali
A procurar por mim
Não me reconheceu
Procurei pegadas
Nos caminhos que trilhei
Tão sem rumo vaguei
Nas estradas por onde passei
Se foi em vão... Não sei
Mas nem o rastro deixei
Eis que numa clareira
Uma nesga de lua
Clareou-me tua face nua
E de novo me deu luzeiro
Um dia coragem terei
De contar, que por onde andei
Te procurei o tempo inteiro

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Irmãos

Nas horas difíceis, no iminente perigo
Feliz de quem encontra abrigo
Num ombro amigo
Eles não nos julgam, não censuram.
Aconselham sempre que nos escutam
E quando pesa demais nossa cruz
Apontam um caminho onde exista luz.
Pode ser um amigo ou amiga
Às vezes nem parente é
Mas sabemos que estarão lá
Se acaso precisar, e, quando preciso for.
Teremos sempre a mão estendida
Pra suportar as feridas, que nos trazem dor.
Tiram a camisa pra nos aquecer
Tornando mais possível nossas vidas
Se sorrimos, se sofremos, se pouco nos vemos
Manos e manas, muito agradecemos
Os bons momentos que juntos vivemos
Como é bom saber que sempre estaremos
Em teu coração, e teremos tua mão
A nos amparar e nos guiar
Se um dia perdermos o chão

domingo, 5 de junho de 2011

Namorados

Uma vida sem vida
Em viver se transformou
Com outra vida buscou
Um lindo sonho a dois
De um dia sem luz nem cor
Noutro com tanto pra ver
Vontade... Até vontade ter
Sofrer? Deixa pra depois

Há quem não se aventure
E tem os meio loucos
Seja um destes poucos
Embriagados na demência
Nos inusitados encontros
Que levam a crer no destino
Afastam-se os desatinos
Zerando a experiência

Andam por aí assim
Num êxtase bendito
Saindo de torpores aflitos
Navegando nas paixões
Assim ao sabor do vento
Fartam-se em afagos
Mantendo acesa a chama
Que e cada dia mais inflama
De amor... Seus corações!

Privações

Nebulosidade no ar
Prenúncio de mau tempo que se avizinha
Semelhanças inquietantes
Com meus pensamentos ambíguos
De difícil claridade
Que as dúvidas insistem em turvar
Depois o minuano trás o frio
Soprando as nuvens cinzentas
Curvando as palmeiras
Recortando as folhas das bananeiras
Potencializando a carência
De quem vive de ausências.

As lembranças, embora dulcificantes
Martelam como o vinho ordinário
Que na hora angustiante
Mascara-se de bálsamo consolador
Num consolo inútil
A quem procura saída fútil
Para dissimular certa dor
Mas... Embora o desapego
Não perco de todo o sossego
Lido até com certa calma
Embora a inquietude do momento
Vou amainando o sofrimento
Com a liberdade da alma.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Prainha

Mar aberto, a ilha tão perto
Minha vista se perde
Na imensidão do oceano.
Entrevero de cuias
No matear pulsante
Prosas de amor e reconciliações
Também de brigas, perfídias
Prefácios de novas escritas.
O cão já mascote
Brinca com seu côco
Trazendo júbilo aos tristes
Mas que ainda persistem
Em se inspirar...Ao ver o mar.
No calçadão os andantes
Seguem a passos firmes
De quem sabe onde vai
Pela academia popular.
Uma onda mais forte
Cobre de espuma o rochedo
E estreita o caminho
De quem segue sozinho.
Ando pela areia branca
Marcada por lembranças
Flutuando em esperanças
Enquanto a brisa desajeita as melenas.
Caminhar em sonhos
É viver também.

sábado, 14 de maio de 2011

Retirado

Como é ruim estar só
Como é bom estar só
A solidão me permite
Ver as estrelas e sonhar
Na esperança de que um dia
O brilho de uma delas seja
A luz que meu olhar
Tateia nas trevas do recolhimento
Então sou feliz na esperança
De poder, um dia ter companhia.
Mas tem um isolamento
Que ainda pior se diz
Pois sufoca em amarguras
A quem a ele se alia:
A solidão com parceria.
Eis que a tristeza convive
Com o solitário acompanhado
Que anda sempre só
Mesmo tendo alguém ao lado

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Desamparo

A chegada é cheia de sonhos
Os medos vêm na partida
Mas devemos ter atitudes
Nas idas e vindas da vida
Embora o sofrimento sabido
Decisões mesmo que penosas
Oxalá sejam tomadas a tempo
De não estender o sofrimento
E machucar ainda mais
Um coração... Tão desvalido
Relembro as marcas deixadas
Os objetos a dois comprados
Muitas lágrimas derramadas
Tantos risos descontrolados
As taças compartilhadas
Atos de amor praticados
Os lugares inusitados.
Ao voltar... Não me encontrarás
Não estranhe por eu ser estranho.
E se me vou acredite
É por ti que faço assim
Pois parto para que sejas feliz
E por amar-te cada vez mais
Até mesmo... Muito mais que a mim

sábado, 16 de abril de 2011

Perseverança

Tronco de cinamomo caído
Que agora faço de banco
Horizontalizado de raízes expostas
Antes imponente agora humilhado
Com suas intimidades à mostra.
Muitas arvores se foram, como tu poucas ficaram
Sem poder escolher pela contingência
Vento norte, veio forte sem clemência
Escancarando seu desamparo.
Agora nesta posição incômoda
Para quem altivo reinava
Caído, ferido, mas não se entrega
Brotos teimosos ainda vicejam
Na luta dos que persistem em viver.
Mateando acomodado em ti
Cinamomo agonizante porem bravo
Entendo tua angústia e teu sofrer.
Tendo eu, passado maus bocados
Vagando por aí sem um costado.
Mas como tu, nunca deixei de crer
Tua luta sempre servirá de exemplo
Nesta teimosia, de pelear todos os dias
Mesmo que por momentos nos falte a confiança
Brotos de esperança, sempre vemos renascer.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Quietude

Por uns tempos me calei
Na esperança que meu silêncio
Responda as perguntas
Que nunca fizestes
Há algo estranho em mim
Pra te dizer o que sinto
Mudo ficarei
E tu me escutarás enfim

Madrugada insone
Na boca este sabor de amargura
Mas apesar da noite ser escura
A aurora sempre acena pra viver
Com nossas línguas em desencontro
Outras formas hei de encontrar
São fortes os motivos
(Até nem sei mesmo se vivo)
Se contigo não me comunicar

A linguagem do amor é milenar
Numa delas devemos nos entender
Atitudes, gestos e a força do olhar
Ah sim! Pois se isto acontecer
Nos meus olhos verás o que sinto
Nem precisarei palavras dizer

sábado, 19 de março de 2011

Campainha

A campainha toca. Ele custa a acreditar, nem lembra quando recebeu visitas, pensa até estar delirando.
Quem seria? Talvez um pedinte, um cobrador, mas estes já não teriam desistido?
Uma balzaquiana do censo? Não, não está assim com tanta sorte. A polícia? Tem andado meio errante, mas crimes não cometeu.
Seria ela? Não, ela não vem mais... até acha que nem tem ninguém, está vendo coisas. Mas o segundo toque dá a certeza: alguém chama.
Claro é ela, aquela que povoa suas noites. Agora está ali para materializar seus sonhos.
Se arruma depressa, experimenta freneticamente várias roupas, olha várias vezes no espelho, usa o melhor perfume, o coração salta no peito, chegou o dia.
Uma última conferida no perfil e caminha a passos firmes em direção a porta. Ao levar a mão à maçaneta ele para. E se não for ela? Deve ser, algo lhe diz que sim.
Mas e se ela veio depois de tanto tempo o que a trouxe? E se for para dizer não, para desistir. Ele recua, olhando para a porta. O que fazer? Terminar com a dúvida? Abrir a porta e encarar de vez a realidade, ou ficar ali esperando ela ir embora, e poder continuar a ter ela tal como sonha...em seus sonhos.
A passos lentos ele caminha, afasta-se dali,, nem se importa com os toques da campainha

quarta-feira, 2 de março de 2011

Devaneios

Tu me fizestes acreditar que o sol brilha
Mesmo quando as nuvens o encobrem
Eu sabia que respirar é importante
Mas contigo descobri
Que ficar sem fôlego é melhor ainda.
Aprendi que as palavras podem ser lindas
Mas só terão sentido
Quando ditas com um brilho no olhar.

Tu me mostrastes que o amor não tem limites
Nós é que colocamos barreiras imaginárias.
Aprendi que amar, é como ver o mar
Que sempre está lá, a nos esperar
Assim de repente tudo aconteceu
Saí do descaminho, em ti me encontrei
Teus olhos iluminaram minhas noites
Que até sonhei sonhar um sonho lindo
Um sonho bom de sonhar porque
Eu estava prestes a dizer o quanto amo você.

Mas acordei aqui longe de ti
Entre aflições e esperanças
Meu coração dispara... depois quase para
A cada vulto na vidraça
Então me desespero, vivendo em quimeras
Com a verdade que passa.
Mas sonhar me faz bem
Sonho que um dia... teu sonho
Seja o meu também

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Quiçá

Pelo barulho do salto
No paralelepípedo imaginei
Ela vem, ela vai chegar, está perto
Estava quase certo
Meu coração disparou
Ela passou, não parou, nem olhou
Era ela, mas não era aquela
Que acabaria com esta louca espera
Era linda sim, mas não era pra mim
Devia estar pensando em alguém
Que mais sorte tem.

Pelo barulho do salto
No paralelepípedo se afastando
Senti um caminhar vacilante
Imaginei por um instante
Vai voltar, estava vindo... Acabou indo.
Mas ainda chegará minha vez
Não desisto porque
Sei que um dia você, incertezas terá
Em questionamentos virá
Não vai querer, pra sempre viver
Neste imenso talvez.

Titubeio

- Posso dizer que te amo?
- Que pergunta, por que não poderia?
Sentimento circula em artérias latejantes
Enquanto admiro tua fotografia
Vivo a andar por aí vacilante
Titubear assim é até intrigante
Se não te digo saberás um dia?

Ensaio um discurso, até uma poesia.
O medo de fazer a corte, a dúvida.
Sentimento que aflige e judia de mim
Preciso ter este ato de bravura
E no momento certo, que será incerto.
Depois de mil gaguejos, estes desejos,
Devaneios e anseios revelados enfim.

Como responderás se não questiono
Acordo assim suando em sobressalto
O temor de tua resposta tirou-me o sono
Receoso eu sigo e enquanto não digo
Desejo ao menos que linda e serena
Nesta noite que te matizas entre loira e morena
Num momento qualquer sonhe também comigo.

domingo, 21 de novembro de 2010

Quem sou eu?

A pergunta é boa, difícil é responder
Quem sabe um dia possa ser
Alguém que se encontrou na vida
Um misto de sofredor e crente
Numa realidade premente
Que traga a felicidade perdida

Um teatino caminhante
Acomodado por um instante
Mas em vistas de nova jornada
Por mais que o caso fique sério
Quem tem sangue gaudério
Não fica longe da estrada


E vou seguindo assim titubeante
Num cair e levantar constante
Por vezes sem forças pra lutar
Mas um teimoso em viver
Sem a esperança perder
De viver, sorrir e amar!

E nestas andanças vê surgir
Novas trilhas a seguir
Com uma estrela a guiar
Mirando astro tão luzente
Que faz assim novamente
O brilho dos olhos voltar

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Sonho

Sonhei sonhar um sonho lindo
Acabei sonhando
No sonho, sonhei contigo
E sonhei que sonhavas
Também comigo

Me aproximei
Para te dizer o que sinto
Mas vacilei
Tu me olhavas nos olhos
Algo notei

Acordei
As horas passaram eu refleti
Se nem sonhando crio coragem
Vai ser platônico?
Vai ser sofrimento?
Ou será que num momento
Revelarei meu amor por ti?

domingo, 1 de agosto de 2010

360 °

Ao ver sinais de perigo
Precisando dar um rumo na vida
Desconfio que errei na medida
Quando vi entrei na espiral
Sai desta agora amigo
Ao invés de um risco calculado
Enrolei-me no esquadro
E apontei 360 graus

Sofrer, ta certo acostuma
Mas por favor, tenham dó
Este efeito dominó
Acaba me enlouquecendo
Como um homem se apruma
Vendo o mundo só girar
Sem ter onde segurar
Onde se prende vai cedendo

Meu mate ficou aguado
Está cheio de riscos
Aquele velho disco
Com a música preferida
Assim inerte tenho andado
Calculando o tempo perdido
Tantos dias a menos providos
Subtraídos na conta da vida

No amor então nem te conto
Cada paixão é um fracasso
Deixando sempre aos pedaços
Coração que pede e que clama
Pensando estar de novo pronto
Entregando-me sem receios
Frustram-se meus anseios
E me vejo de novo na lama

E agora? Boa interrogação
Num lampejo de coragem
Ressuscitando minha imagem
Tal o fênix legendário
Algozes se decepcionarão
Pois sei que há muito por vir
Ademais a palavra desistir
Não consta no meu dicionário

Todos viemos pro mundo
Com uma missão a cumprir
Sofrer, amar, chorar e sorrir
Faz parte de nossa estadia
Tudo muda a cada segundo
E mesmo nos piores momentos
Trago comigo um pensamento
“Ainda vou rir disto um dia”

sábado, 31 de julho de 2010

Espelho

Meu espelho caprichoso
Muito zeloso e prestativo
Tem me deixado pensativo
Acho que está com defeito
Insiste em distorcer o que reflete
Mostrando-me diferente
Numa teimosia insistente
Vejo na minha frente
Um homem, que não conheço direito

Cabelos mais brancos que os meus
Mostra até umas rugas fictícias
Nesta cara de menino
Não reconheço a figura
E entro em desatino
Porem consigo manter a calma
Mirando sem medo a imagem
Vejo que não é uma miragem
Quer é me mandar uma mensagem:
Te cuida, estás a judiar tua alma!
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terça-feira, 20 de julho de 2010

Homem que ama

Um homem quando ama
No olhar um brilho tem
De longe quando ele vem
Vê-se que voltou a viver
Sua face iluminada
Rejuvenesce no tempo
Motivado pelo alento
Que de novo passou a ter

Das noites mal dormidas
Pesadelos a lhe dar fadiga
Com revezes e intrigas
Adviram sonhos de paz
Nestes ele encontrou
Vagando por um jardim
Com rosas, alfazema e jasmim
Quem nova alma lhe trás

Das poesias tristonhas
Inspiradas, mas sem alento
Cheias de dor e lamento
Só ficaram as lembranças
O chimarrão do fim de tarde
Que sufocava pela amargura
De uma vida tão dura
Hoje é cheio de esperanças

Da mesa sem vontade
À qual sentava sem gosto
No alimento ali posto
Nem vontade de tocar
Hoje admira e se anima
Pois imagina que um dia
Quem povoa sua fantasia
Junto dele pode estar

Até mesmo o espelho
Que refletia conflitante
Mudando a cada instante
Pela inconstância do ser
De um homem sofredor
Desesperado e sem calma
Teimava a mostrar-lhe a alma
Que ele não queria ver

Hoje estão todos em paz
A mesa, o espelho o jardim
Um homem que ama é assim
Passou a vivenciar encantos
Só algo ainda o inquieta:
Quando coragem terá
E seu amor declarará
Àquela, a quem ama tanto?


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segunda-feira, 12 de julho de 2010

Borboleta

Na curva do rio que corre preguiçosamente entre os campos tem uma figueira. Na sombra desta um homem sentado com os olhos fincados na solidão, observa como a água acaricia as pedras, e como as avencas seguem sua teimosia de manter verde aquela barranca, cicatrizada pela erosão.
A transparência da água permite apreciar o bailado dos lambaris, e a calmaria forma sobre o poço uma tela de cristal líquido, onde ele assiste a um filme em flash back. O roteiro trata da história de um menino órfão que cresce livre sem alambrados a balizar suas idéias, e no desamparo vive batendo cabeça daqui e dali. E, neste cair e levantar constante vai tateando um rumo a seguir, em meio a complexos e preconceitos que lhe acompanham em sua adolescência.
Mas apesar do prognóstico sombrio, no meio de tantos revezes, ele meio que se salva mantendo-se aquém da linha tênue que separa o bem do mal. Consegue seguir em frente quando preconizavam que não iria longe, não caindo nas tentações próprias de quem entra no mundo dos adultos sem um costado, e consegue assim ir falquejando-se como um cidadão até que de boa marca.
E, além do mais o menino agora homem conseguiu transformar em amor todas aquelas mágoas que lhe instigaram até ali. Com um coração cheio de amor ele se entrega a cada vez que se apaixona sem reservas, sem receios, sem limites. E como não consegue equilibrar a razão com a emoção ao se entregar de corpo e alma novamente em sua vida vem o sofrimento. Pois para compensar carências de outrora, como um jogador novato ele apostara todas suas fichas.
Na amargura de um viver vazio, a dor, o preconceito e a mágoa são seus parceiros. Hoje ele segue se equilibrando como se estivesse caminhando no arame, e apesar de ter mantido seu caráter e uma postura de homem digno, ele se pergunta: para que? Ao mirar aquele espelho d’água ele só vê a figura de um homem sentado na sombra da figueira como uma figura inerte lá no fundo...
Eis que de repente em sua perna pousa uma borboleta e ele volta-se para ver aquela figura inquieta como a querer dizer-lhe algo. Ele sente uma lágrima rolar por sua face, e até ensaia um júbilo, mas desaprendeu de sorrir.
Mas agora o homem sentado na sombra da figueira tem os olhos fincados num fio de esperança, pois como ali naquele ponto o rio fêz uma curva e mudou sua trajetória, quem sabe ele consiga seguir aquela borboleta. Não importando para onde ela o leve, mas certamente novos rumos lhe trarão o que quase lhe falta: viver. Seja para amar seja para sofrer, mas viver!

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Mulher perfeita

Depois de fazer uma crônica brincando com o que seria a mulher ideal,( http://bit.ly/9oSS8i ) me lembrei de uma antiga história de dois amigos que numa certa tarde conversavam sobre a vida e o amor.
O amigo perguntou a Nasrudim por que ele ainda não tinha casado, aí ele respondeu que passou toda sua juventude a procurar a mulher perfeita. Disse que no Cairo conhecera uma moça muito linda e inteligente, com olhos negros, mas que não era muito cortês. Em Bagdá, conheceu uma mulher de alma generosa e amiga, mas não tinham muitos interesses em comum. Disse que muitas mulheres haviam passado por sua vida, mas que em cada uma sempre faltava algo, ou tinha alguma coisa demais.
Até que um dia, disse ao amigo que a encontrou. Era linda, inteligente, generosa e bem-educada. Disse que tinham muito em comum e que era na verdade a mulher perfeita.
E então o amigo perguntou: Mas o que aconteceu que ele não se casou com ela?
Nasrudim coçou a cabeça e pensativo respondeu: Infelizmente parece que ela estava à procura do homem perfeito.

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terça-feira, 15 de junho de 2010

Escada

Na escada encontrei um velho
E, pelo semblante que tinha
Deveria ter o dobro da idade minha
Segurava firme o corrimão
Ele subindo e eu descia
Embora com minha idade
Fosse da sua a metade
Mal sentia tocar as mãos

Ao me ver falou bom dia
Embora ofegante ele seguia
Em cada degrau que subia
Demonstrava força pra viver
Eu mal balbuciei a resposta
Inerte em minha dor
Descendo para me por
No chão pensando em morrer

Ele sentiu pena de mim
Me fitou ao passar
O que senti em seu olhar
Me ficou numa imagem
Quanta luta aquele homem
Já travou e ainda assim
Ali ao cruzar por mim
Demonstrava força e coragem

Eu descendo e ele subindo
Cada degrau pra ele uma vitória
Homem de brio e de glórias
Mirando sempre em frente
Ele subindo e eu descendo
Cada degrau uma forte
Vontade de encontrar a morte
Que me viesse de repente

segunda-feira, 14 de junho de 2010

L'uomo che ama

Quando un uomo ama
Negli occhi ha un barlume
Di gran lunga quando si tratta
Vediamo che tornano in vita
Il suo viso si illuminò
Tempo ringiovanisce
Motivati dalla incoraggiamento
Chi ha ancora iniziato ad avere

Di notti insonni
Per darvi incubi fatica
Con battute d'arresto e l'intrigo
Ci sarebbe il sogno di pace
In questi ha trovato
Vagando attraverso un giardino
Con le rose, lavanda e gelsomino
Chi torna nuova anima

Di poesie tristi
Ispirato, ma senza fiato
Pieno di dolore e di rimpianto
Sono solo ricordi
Il compagno della serata
Che soffocato dal rancore
Da una vita dura
Oggi è pieno di speranza

Il tavolo senza una volontà
Che si sentono insapore
Metti nel cibo ci
Non toccare
Oggi, l'ammirazione e gli applausi
Ben immaginare che un giorno
Chi si riempie la tua fantasia
Insieme si può

Anche lo specchio
Che riflette in conflitto
Cambiare ogni momento
L'incostanza di essere
Un uomo dei dolori
Disperato e senza calma
Ha insistito per mostrare la sua anima
Egli non vuole vedere

Oggi sono tutto solo
Il tavolo, specchio del giardino
Un uomo in amore è così
Cominciò a sperimentare fascino
Solo una cosa ancora inquieto:
Quando avrà il coraggio
E dichiarare il vostro amore
Con questo, egli ama così tanto?


sábado, 8 de maio de 2010

Olga, mãe, saudades

Minha mãe depois de tanto tempo
Que partistes pra longe daqui
Uma vontade se apossou de mim
De te contar como estou
Quando Deus a levou
Pouco havíamos convivido
Num vivenciar sofrido
Em que enferma ficou

Eu ainda era um menino
Quatro anos de idade tinha
E sempre que a saudade vinha
Mirava tua fotografia
Naquele retrato me olhavas
Com um amor incontido
Teu olhar fazia sentido
E a tristeza dava lugar a alegrias

Mas tu sabes mãezinha
Que apesar da orfandade
E de minha pouca idade
Eu não fiquei sozinho
Tive cuidados especiais
Da mana, madrinha, pai e outros mais.
Suprindo a dor de não ter teu carinho

Dona Olga te conto
Que depois que cresci
Muito na vida sofri
Às vezes por falta de amor
Mas também muito amei
Tive alegrias infindas
Momentos e passagens lindas
Considero-me um vencedor

Depois de 45 anos sem ti mãe
Eis que com muita saudade
Eu senti uma imensa vontade
De te mandar um beijo agora
Nos momentos difíceis da vida
Sempre busco força e ternura
Para amar, e ter a alma pura.
Espelhando-me na senhora

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quinta-feira, 4 de março de 2010

Sábio Gaudério

Um Gaudério de tanto andar pelas quebradas da vida viu mundos e coisas que no interior só se ouvia falar. Quando queriam saber mais sobre um determinado assunto iam ter com ele.
Nunca deixou pergunta sem resposta:


- Sábio Gaudério o que é um sarcófago?
- É um invento que deu origem a lata de sardinhas.

- Sábio Gaudério o que é um louco?
- O louco de hoje será o gênio de amanhã.

- Sábio Gaudério o que é um covarde?
- É aquele cara que quando está em perigo, pensa com as pernas.

- Sábio Gaudério o que é um rim?
- É uma maquininha de fazer cálculos.

- Sábio Gaudério fale sobre os tipos de casamento.
- O casamento de uma mulher com vários homens se chama poliandria. O casamento de um homem com várias mulheres se chama poligamia. O casamento de um homem com uma mulher se chama monotonia.

- Sábio Gaudério fale sobre a grande obra da criação.
- Assim: Deus fez o mundo e descansou. Deus fez o homem e descansou. Aí, Deus fez a mulher e nem Ele, nem o homem, nem o mundo tiveram mais descanso.

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sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Psique

Com as rugas da vida
Abriram-se feridas
Num peito então sonhador
Mas minha alma é lisa
Defronte o mar, a brisa
Reflexões e senões
Caminhos se buscou

Minha vida ficou presa
Mas a alma se soltou
Olhando para o futuro
O passado me voltou
O presente a alma sente
Ilumina e me faz crente
Num lampejo de alegria
Que um dia alguem levou

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quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Perfídia

Um homem que trai carrega em sua consciência o peso do remorso. Ao se voltar para outras, às vezes até dando mais atenção a quem não merece em certos momentos a culpa lhe cai sobre os ombros.
Até um simples gesto de carinho ele deixa de dar, àquela que não lhe pede muito, apenas um reconhecimento por seu valor.
Eu que iludido por certas cores e aromas enveredei-me pelos caminhos da traição. Na ânsia de experimentar coisas novas e sensações diferentes, dediquei meus carinhos e afagos a umas em detrimento de outra.
Mas quando cuidava das novas escolhidas, ao lembrar dela ficava me condenando por estas atitudes infiéis.
Cada vez que olhava pra ela sentia sua tristeza por saber estar sendo deixada de lado. Eu impotente pela ilusão de amores fugazes, amarrado por paixões céleres, sofria e adiava uma decisão que devia tomar logo.
Pois ontem depois de sonhar com ela dizendo que me sentia distante e que minha falta ia fazer com que ela um dia deixasse de viver, finalmente tomei uma decisão.
Não que eu tenha resolvido me dedicar só pra ela até porque as outras tem me mostrado visões que antes eu não tinha visto e proporcionaram-me alegrias demudadas.
Munido de coragem fui chegando com cuidado e aos poucos me desculpando pelo descaso com que a tinha deixado.
Carinhosamente para não machucar ou piorar ainda mais sua situação, fui removendo aquele mal que tanto a sufocava e vi que se ela resistiu até aqui foi por sua coragem e perseverança.
Depois de algum tempo ela sentiu-se livre, e eu mais ainda, pois a cada folha da erva daninha que eu removia, eu sentia minha alma mais leve.
Depois de terminar senti uma sensação gostosa e gratificante causada pelo prazer de ter cumprido com meu dever.
Aquela plantinha de orégano hoje amanheceu com um aspecto maravilhoso e ao regá-la prometi a mim mesmo que embora gostando da hortelã, da sálvia, da mangerona e até da pimenta, ela ia ter daqui pra frente no mínimo a mesma dedicação dada as outras.

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segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Vegetal

Num dia destes em que se procura algo para pensar, que desvie os pensamentos dos infortúnios que nos cercam, estava eu olhando o jardim. Imaginei qual daquelas plantas alí se parecia comigo.
Olhei os pés de alegria de jardim com suas flores vermelhas, algumas sem folhas, pois as formigas as andaram levando, mas não me identifiquei. Nem com e nem sem folhas. Na fileira de marias sem vergonha, judiadas pelo calor e um pouco desanimadas, não vi nada em comum a não ser o semblante acabrunhado.
Ao ver a romãzeira, esta tranqüila, pois vive mais de cem anos me deu uma certa angústia. Lembrei que me vou um dia e ela vai ficar dando seus frutos. Mas este sentimento egoísta me envergonhou.
As uvas miúdas, mas muito doces que reparto com o Pank a cada vez que colho com certeza não refletem meu ser. Assim como a palmeira alta e esbelta. Aliás, nunca vou parecer uma palmeira, ainda mais esbelta.
Olho a pitangueira e viajo aos tempos de criança, quando morando no interior de Itati, passava as tardes colhendo seus frutos e tomando banhos de sanga. Sem dúvida me encontrei nesta planta, como um marco de meu passado, mas hoje em dia não me identificaria nela. Bananeira? Não, nem com e nem sem cacho.
Vi o pé de cidró e notei que vários de seus galhos, aqueles que ficam para o lado da rua estão quebrados por quem quer levar seu chá pra casa.
Olhando o orégano observei que este também passa por um revés: uma touceira de erva daninha cresceu junto a ele e o sufoca quase o escondendo.
Aquelas cicatrizes do cidró com seus galhos quebrados parecem feridas numa alma dolorida e sofredora. Aquelas mãos que avançam pela tela para levar sua folhas me parecem como monstros a atormentar com seus tentáculos.
O sufoco pelo qual passa o orégano, mal conseguindo respirar sob a inclemência do mato que lhe cobre, se parece com uma vida, a sofrer com pressões e muitas vezes sem uma luz para clarear o caminho.
Uma alma ferida, cicatrizes, sonhos partidos, galhos quebrados, feridas expostas, um corpo cansado e oprimido parecendo não conseguir levar o peso que tem sobre seus ombros.
Mas mesmo nesta situação o cidró continua a crescer agora mais para o outro lado onde quem passa na rua não alcance seus galhos, e mesmo tendo um lado ferido não desiste de brindar-me com suas folhas. E, numa luta exemplar para cada galho que foi quebrado nascem vários brotos novos.
O orégano também em sua bendita teimosia de continuar existindo conseguiu soltar alguns raminhos por entre a touceira de mato, com seu aroma inconfundível.
Minha luta tem sido por vezes desigual. E nestas duas plantas vi semelhanças com o que tenho vivenciado. Porém não quero me espelhar nelas somente em seus sofrimentos. Quero que seu espírito de luta continue me contagiando.
Portanto quero me ver como o cidró que para cada galho que lhe quebram nasce outro que o deixa mais forte.
E no orégano que quando tudo parecia perdido conseguiu em meio às trevas um estreito caminho para crescer e alcançar a luz do sol.
Continuei andando pelo jardim, olhando a hortelã, a salsa, a cebolinha, a alfazema, o manjericão...
Acho que me inspirei, esta noite merece uma bela... Pizza.

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domingo, 31 de janeiro de 2010

Noite de inverno

O vermelho com tons de rubi do vinho na taça sobre a mesa, refletia as chamas da lareira que com seus estalos ao queimar concorria com o som da música instrumental de um piano que tocava uma trilha inspiradora.
Não fosse o balançar dos galhos das árvores que ele vislumbrava pela janela, castigados pelo minuano, ali naquele ambiente nem se notaria, ser esta uma noite fria de inverno.
Quanta emoção uma noite assim reserva, quantos pensamentos acompanham aquele movimento das copas das árvores, num ir e vir teimoso contra aquele soprar instigante.
Na penumbra de um luar de crescente, vê a estrada e percorre-a até onde seu olhar alcança.
Muitas lembranças passeiam com ele naquele caminho, que se não fosse a geada de outro dia estaria com o capim crescido, uma vez que pouco se transita por ali.
Acorda de seus devaneios e de súbito pensa no momento que vive.
Olha para a mesa posta, uma angústia invade seu peito e tira-lhe a vontade de sentar ali.
Volta-se novamente para a vidraça e olhando em seu vulto refletido pergunta: Por que não duas taças?
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terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Eu te amo

Eu te amo
Agora posso falar, embora pareça
Neste momento uma loucura
Mas é em ti que minha alma procura
Que novamente o amor... Agora aconteça

Pode ser que eu me vá
Por que é certo, partirei um dia
Mas meu coração me diz
Que este homem seguirá quem sabe feliz
Se puder repartir... Contigo minha alegria

Quando me deito
Ao pensar em ti entro em delírio
Não me deixas dormir
Mas quando levanto acabastes de sair
Tua ausência se torna... Um martírio

Não sei se sabe quem és
Mas uma pista deixei
Um dia numa mensagem minha
Uma palavra sem sentido (ou muito) nas entrelinhas
Quis dizer que em ti... Muito pensei

Eu te amo
E pra sempre quero te amar
A ti busco, muito embora a timidez
Faça com que eu continue outra vez
Amar platonicamente... E não me declarar

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domingo, 24 de janeiro de 2010

Obrigado

Minha vida era como uma embarcação navegando em águas turvas, com constantes ameaças de tempestades. Um dia ela veio. E, com toda a violência que fez com que aquele barco que não era muito forte começasse a se despedaçar. Segurava-me no timão ele se rompeu, segurei no mastro ele se partiu. Numa tábua que lascava do chão do convés agarrei firmemente, e foi minha legítima tábua da salvação.
Segurando nela eu consegui juntar forças e esperar pelo pior. Adormeci olhando pro céu me deixando levar, pois pra quem não sabe aonde ir, qualquer caminho serve. Em meio as trevas começaram e cintilar pontos de luz, que foram crescendo e me iluminaram novamente. E, no dia seguinte naquelas águas tão cálidas que mais pareciam espelhos a refletir o céu azul, senti-me novamente seguro. Nesta calmaria (aparente) ao buscar novos portos e novas rotas vi acordarem em mim certos gostos então adormecidos. Um destes é ir relatando o que vejo nos caminhos da vida. E se hoje não navego mais em águas tão turbulentas, ou se ao ver uma tempestade já não me apavoro tanto é porque de certa forma consigo repartir meus medos e meus anseios ao escrever sobre eles. Nestas escritas relato passagens, acontecimentos e vivências. Às vezes de uma forma dura e sofrida, noutras com sarcasmo e ironia, e em algumas delas um pouco de humor, pois ninguém é de ferro nem foi feito pra sofrer sempre. Sem contar as dores de amor, mas crente que um dia vai bater forte este coração.
Esta variação é um reflexo de cada momento vivido, numa jornada de vitórias e de derrotas, de alegrias e de tristezas, mas sempre de luta e de esperança no amanhã.
Obrigado a todos que me ajudaram e incentivaram e a você que muito me honra com sua visita.

sjacoby@terra.com.br


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domingo, 10 de janeiro de 2010

Long Neck a 10 paus

Para os doentes de amor, o remédio pode estar na vida noturna, e nas noites de insônia podemos sair, e procurar emoções diferentes. Poetas buscam neste tema inspiração para seus versos. Numa noite destas um homem sai a buscar algo que lhe faltava: calor para seu coração carente. Numa ronda pela cidade, passou na igreja, rezou e em silêncio pediu proteção.
Numa casa com um neon sugestivo, e com luzes vermelhas piscantes entrou meio desconfiado. O porteiro que mais parecia um armário chamou-o de doutor e desejou bom divertimento.
Ao chegar ao salão, numa penumbra multicor, procurou uma mesa com uma boa vista para a pista de dança. Mal ele senta e uma senhorita se aproximou. Deu-lhe dois beijos no rosto e ele sente seu perfume forte e marcante, bem como sente que seu batom lhe marcou. Era loira, com seios fartos que pareciam querer saltar pelo decote, e apesar do lusco-fusco ele percebe que estava sem sutiã. Ela conta que tinha colocado silicone nos seios, e disse que tinha uma tatuagem num lugar muito discreto. Enquanto tomava uma cerveja, ela contou que estava ali por falta de opção, e que só com este trabalho conseguia dar conta das despesas com uma filha e pagar a faculdade. Que em dois anos se formaria e sonhava abandonar aquela vida. Sandra, como se chamava disse que ele era um homem muito interessante e que era fácil se apaixonar e que se um dia ela encontrasse alguém como ele abandonaria sua “profissão” na mesma hora.
Ele pensa, o que é o cara ser bacana, olha só: amor a primeira vista...
Para ganhar tempo e ficar mais à vontade mente pra ela que ia esperar um amigo que viria mais tarde e que antes dele chegar ia só beber um pouco. Ela disse então que ia dar uma volta, beija-o no pescoço e disse que o queria muito.
Ele fica ouvindo as músicas: “você não vale nada mais eu gosto de você... boemia, aqui me tens de regresso... levei um pé na bunda...agora saio na sexta e só volto na segunda... besame, besame mucho...” Olha para um sofá, do outro lado da sala e vê a Sandra quase sentada no colo de outro. Por pouco não se suicida ali mesmo com tamanha “traição”.
Vai ao banheiro e na volta nota uns conhecidos que ficam meio sem jeito ao lhe ver, faz de conta que não reparou neles e volta pra sua mesa.
Notou que aumentou o movimento na casa e que um grupo de mulheres novas acabou de chegar. A Marisa com seus cabelos negros cacheados e um corpo de violão se apresenta. Em vez de beijinhos abraça-o e sussurra algo em seu ouvido que deixa ele todo arrepiado. Usa um vestidinho preto, tipo tomara que caia que fica toda hora ajeitando. Trás uma cerveja e senta ao seu lado como se fosse sua namorada: segura pela mão e alisa seus cabelos... Seu vestido curto sobe e mostra suas pernas bem torneadas. Uma mulher muito bonita, e com um sorriso encantador.
Diz que tem 19 anos e que está na cidade faz duas semanas. Não estuda, mas precisa mandar dinheiro pra mãe doente que mora na fronteira.
Convida-o pra ir para o “reservado”, onde podem ficar mais à vontade. Insinua um movimento esfregando o corpo e ele pede outra cerveja para que com sua saída, recoloque as idéias no lugar...Ao levantar deixa cair a bolsa (de propósito) e ao juntar quase lhe cega com a visão de seu traseiro.
Quando ela volta, está recomposto, e pergunta como funciona o reservado. Conta-lhe que pra ir lá tem de comprar um champanhe, e que podem trocar carícias mais íntimas. Só não podem fazer sexo. Pensa ser uma ante-sala do paraíso. Mas acha também um desperdício, pois de que adianta entrar lá se não tem como seguir em frente? Pergunta pra Marisa, se for pra ir direto ao programa como seria, e ela contou que ele pagaria as despesas da “moça”, do apartamento, do preservativo e de um drinque pra tomar no quarto. Com sexo normal era uma tarifa, mas outros serviços seriam cobrados à parte. Começou a brochar ao ver quanto custaria aquela sessão toda. E depois mesmo ali naquele lugar imaginava ele na sua ingenuidade encontrar algo mais romântico... Disse pra ela que ia esperar um pouco, que podia ficar à vontade que ia pensar.
Ela saiu dançando sozinha, e no meio da pista abraçou a coluna tentando subir na mesma,imitando a performance que uma dançarina fazia numa novela. Ainda lhe provocou várias vezes com um olhar malicioso,mas logo depois alguém saiu com ela nos braços para um canto da sala.
Apesar de ser tão, ou mais atraente e “interessante” que a Sandra, perder a Marisa não o deixou abalado.
Olha para os casais se amassando e se beijando, e a fumaça dos cigarros formando figuras na luz negra.
A casa está cheia e agora é a Verônica que vem com tudo pra cima dele: Chama-o de amor, tenta sentar no seu colo, e quase esmaga-o com seus quilos a mais. Seu cabelo vermelho até que é bonito, mas nem mesmo a penumbra disfarça que sua míni-saia é um número menor a espremer-lhe a bunda, e uns pneuzinhos de bom tamanho salientam-se sob sua blusa. Já meio bêbado, sente náusea com seu cheiro de cigarro quando ela morde-o no pescoço.
Pediu que lhe trouxesse uma cerveja, mesmo não tendo terminado a última, numa tentativa de se livrar do perigo que rondava. Fica rindo da sua desgraça, esnobou a siliconada, esnobou o galeto, agora bem feito: sobrou a baranga. Mal ela chega, ele diz que recebeu um telefonema urgente, que tem de ir, mas promete voltar outro dia. Ela ameaça sentar e ele resolve sair sem tomar a última cerveja. Ofereçe a ela e deseja bom proveito.

Vai ao balcão paga a conta, e sai de fininho. Dá uma olhada pra mesa e a Verônica faz um coração com gestos e lhe joga um beijinho....

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terça-feira, 29 de dezembro de 2009

No ENEM/2009

Neste segundo dia de provas, cheguei meia hora antes. Hoje já me sinto mais à vontade pois ontem, em certo momento, comecei a me sentir como um estranho, e até pensei: o que eu estou fazendo aqui.
Enquanto aguardo na sala, sofro com o forte calor e o suor molha minha camisa. Vejo mais pra frente um colega, com manga comprida e casaco de couro, será que não está tão quente assim e minha gripe é que me desregulou a percepção da temperatura? Gripe esta que ontem me incomodou e me fez cochilar várias vezes durante a prova, e que continua, minha cabeça dói e a coriza incomoda bastante. Espero que hoje os analgésicos dêem conta do recado e eu agüente as cinco horas de “sabatina”.
Como hoje é a final do campeonato brasileiro, alguns candidatos vieram vestindo as cores de seus clubes. Entre uma do São Paulo e outra do Flamengo vejo mais camisetas do Grêmio que do Inter. Parece que os colorados jogaram a toalha mesmo, mas espero terminar até as dezessete horas para ver o jogo.
Sentei-me no mesmo lugar de ontem. Noto que outros me olham e vejo que ficam intrigados ao me ver escrevendo, talvez pensem que estou “treinando” pra redação. Penso no meu blog e lembro que voltei a escrever sobre as formigas no twitter. Gosto do assunto apesar do incômodo que elas me causam.
No almoço comi saladas e carne para evitar sonolências, mas faltam vinte minutos e estou cochilando. Trouxe uma garrafa de água pra matar a sede e para os remédios que com certeza vou precisar.
Sinto certa tensão nas outras pessoas, talvez pela necessidade de ir bem na prova, até porque este ano mais faculdades estão aceitando as notas do ENEM para ingresso de alunos. Nervosismo que não tenho pois ainda não vou concluir o ensino médio este ano. Estou fazendo mais por curiosidade, e, portanto de sangue doce, mas que dá um friozinho na barriga, isto sim.
A sala é abafada e está quente mesmo, e, a despeito do homem com casaco de couro, a maior parte se veste com roupas curtas. Um rapaz gordo veste uma bermuda estranha que quase toca o tênis. Fico me perguntando se é para vestir uma bermuda que vai até os pés porque não pôr logo uma calça? Mas ele parece feliz, e se aquela roupa o deixa assim, quem sabe amanhã não estarei tambem com uma.
Algumas mulheres que, aliás, são a maioria, mostram suas pernas com shorts e míni saias. Umas conversam com as outras e eu fico quieto tentando decifrar o que falam. Uma moça ruiva de uns dezoito anos, não para de sorrir ao meu lado, parecendo querer mostrar seu novo aparelho nos dentes. No outro lado uma senhora de uns trinta anos, morena e com cabelos armados num coque comenta estar cansada pois fez faxinas antes de vir. Com certeza ela está fazendo esta prova em busca de algo melhor e novas condições de vida.
Uma moça loira com cabelos encaracolados que ontem sentou na minha frente, hoje está no mesmo lugar. Notei que ela veio com a mesma roupa de ontem, inclusive a calcinha rosa com florzinhas que fica aparecendo entre o cinto do jeans e a blusa que sobe quando ela se movimenta. Bom, pode ser que ela tenha duas iguais.
Dou uma olhada panorâmica e vejo que sou o mais experiente da turma. Afora umas quatro pessoas na faixa dos trinta, os outros todos têm entre dezesseis e vinte e dois anos.
Faltam dez minutos, vou ao banheiro e quando volto a sala está cheia. Agora noto que as camisas do Inter são maioria, acho um bom sinal.
A monitora entra e anuncia o início da prova, agora tudo que vier será lucro, só espero não ficar na lanterna...

(Depois de fazer a redação, a gripe apertou e cochilei várias vezes. Com febre e dores pelo corpo não tive condições de terminar. Marquei muitas questões aleatoriamente e saí no meio da prova. Mas tive uma boa média inclusive que me daria acesso a algumas universidades. Ano que vem vamos de novo.)

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Berlinda

Acomodado num tronco de cinamomo caído que agora ele faz de banco, contempla o mato crescido nas cercanias do rancho. A última vez que deu um trato no jardim, esperanças ainda tinha de se ver novamente, com a volta de quem se foi. Cuidava com capricho do terreiro, do quintal, enfim da casa inteira, pois sabia que se ela chegasse nem que fosse pra buscar um esquecido, ia gostar de ver. E, quem sabe até resolvesse ficar.
Mas qual que, o tempo se passou e só ficaram as lembranças a perseguir-lhe por onde anda, e pra onde leva seus pensamentos.
Nesta manhã quente de verão sentado mateando, o chimarrão amarga como nunca. Coisas que antes abominava agora se tornaram corriqueiras. Entregou-se a vícios do fumo e do trago, numa fuga para aplacar sua dor. Às vezes se vê chorando baixinho e lágrimas rolam pelos vincos de sua face marcada pelo sofrimento. Sua cara, aliás, nem de longe se parece a mesma, barba por fazer e as melenas por cortar pra mais de quatro luas.
Pensou várias vezes em ir à cidade, cuidar de umas coisas e um pouco de si, mas fica relutando e adiando, pois se sente às vezes um pária sendo julgado, ou vê os outros com pena de sua desgraça. Ele antes alegre e crente na vida agora olha mais pro chão do que pra frente. Quando se encoraja, e pensa em tomar uma decisão anda a passos curtos e seu lampejo de coragem se esvai em seguida.
Até as cigarras com sua estridência típica da estação, que antes ele gostava de ouvir, agora soam como um coro de algozes zombando sua sina.
Sorvendo um mate misturado com lágrimas, eis que lhe tenta a idéia de parar de sofrer pela via mais torta. Mas ele se assusta de si mesmo.
Está certo que se não mudar sua atitude não irá longe, mas covarde não é, e ademais, apesar de tantas provações ainda crê na divindade. De pronto se apruma, discursando aos arbustos crescidos que encobrem a vista da casa. Não sabe ainda quanto viverá, mas se cair vai ser lutando e mais: Promete a si mesmo que não abdicará dos sonhos, de um dia, mostrar que podem judiar de seu corpo, podem maltratar sua alma, mas não vergarão seu caráter.
E até acredita um dia destes, quem sabe voltar a sorrir.

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quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Droga

Um pote de veneno encontrei
Provei e gostei, mas pressenti
Que acabaria me viciando
Não sei até quando ia resistir

Aquele tipo de veneno me tentava
Quando olhava, não ficava sem tocar
Mas num lampejo de lucidez
Resisti e desisti até de olhar

Existem venenos interessantes
Enganam a quem está sem luz
Uma vez carente e precisando
Entrega-se, pois aquilo lhe seduz

O pote geralmente é um engodo
É bonito e de enfeites multicor
O problema é o conteúdo do desdito
Que tenta aos carentes de amor

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domingo, 13 de dezembro de 2009

Mulher ideal

Resolvi me casar e então saí a procurar a mulher ideal. Mas como ela seria? Uma Amélia, aquela que não tinha a menor vaidade? Ficava feliz até em não ter o que comer? Existem mesmo estas mulheres?
Penso que teria de ser bonita, mas aí me contam que as modelos são burras. Pronto, já não teria o que conversar. E depois mulher muito bonita cria uma sensação de insegurança. Os outros a querem muito e um dia alguém pode levar.
Mas então quem sabe uma feia? Sim feia, mas inteligente, culta, que leia e que fale sobre vários assuntos. Bom, mas e ao acordar de manhã? Ou pior no meio da madrugada, e olhar pro lado e se deparar com aquele ser abominável roncando?
Quem sabe uma que saiba cozinhar? Teria comida gostosa e cada refeição seria um deleite. Mas e o excesso de peso? O colesterol? Sem falar que a sonolência depois de cada refeição, anularia a possibilidade de outras atividades.
Então uma que não saiba nem fritar um ovo? Esta iria me ter como herói, pois seria dependente. Mas e se não souber cozinhar, mas for esperta? Cada dia pediria uma comida diferente, ia querer comer fora e tal. Sei não, complicou.
Quem sabe uma gorda? Alegre e sorridente, bom humor sempre teria. Mas e se ela um dia inventasse uma posição invertida? Socorro!
Uma magra então. Até pode ser, mas, mulher sem ter onde pegar fica esquisito. E ainda mais: depois de cada refeição iria desconfiar que ela estivesse grávida.
Uma mulher alta seria interessante, muito bacana e tal. Mas e para alcançar certas partes na hora do carinho? Uma baixinha seria ideal, mas haveria um perigo constante: viveria perdendo ela em algum lugar da casa.
Morena ou loira? Relaxada ou caprichosa? Gremista ou colorada? Conservadora ou reacionária? Cabeluda ou depilada? Gaudéria ou sertaneja? Caseira ou baladeira? Religiosa ou endiabrada? Muda ou falante? Drogada ou natureba? Educada ou barraqueira? Abstêmia ou cachaceira?
Tantas dúvidas senti que iria acabar pirando, mas como estava decidido resolvi pedir auxílio. Solicitei uma mulher que reunisse as melhores qualidades e que me deixasse satifeito ítem por ítem, com aquela "idealizada" por mim. Depois de alguns dias chegou o agente matrimonial com a "encomenda".

Antes de mostrar-me assim esclareceu:

Encontramos tua "musa"
Conforme solicitação
Não aceitamos devolução
Desta que te convém
Porque se desistisses
Não sei o que faríamos com isso
Pois pra querer este estropício
Não encontraríamos ninguem
Porque não é todo dia
Que um homem se propõe enfim
Casar com alguem assim
E ser cunhado do Frankenstein
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quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Os dedos e os anéis

Quem já teve anéis
E vê irem-se todos, mas não padece
Admira seus dedos e agradece
Pois não é o poder que idolatra
Mas quem é materialista
Olha pra eles e sente medo
Porque nunca viu seus dedos
Despidos de adornos de lata

Eu que já os tive
E se foram todos, não ficou nenhum
Mas meus dedos, conto um por um
E não faltam, a não ser marcas no couro
Uns eram de vil metal
Outros até bem cintilantes
Iluminaram-me em certos instantes
Na ilusão da prata e do ouro

Hoje me encontro assim
Meio sem rumo a vagar nas ruas
Marcado pela verdade nua e crua
Das cicatrizes que a vida me deu
Desprovido de matéria e plata
Assim me sinto, muito embora
Pareça meio acabrunhado agora
Ao menos posso dizer: este sou eu

É muito bom desopilar-se de matéria
Andar por aí sem nada a perder
As coisas e os amigos passamos a conhecer
Pois o que ficou, é verdadeiro e real
Eu, que vago por aí meio teatino
Em certas horas até desprevenido
Mas de caráter continuo bem provido
Porque este, não se mede com metal
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sábado, 14 de novembro de 2009

A volta

De repente eu morri
Mas então pressenti,
Que era cedo pra ir.
De repente eu renasci,
Portanto estou aqui
Esperando por ti.

Será que lembras em mim?
Mas se recordar enfim,
Que seja o que penso.
Em quimeras voltei
Se me esperas, estarei
Neste anseio imenso!

A morte, ah volte outra hora
Porque este homem agora
Quer encontrar o que deixou:
Um platônico amor
E cessará sua dor
Quando com ela encontrar
E assim se declarar
- Minha bela...aqui estou!
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Se...

Se existir guerra que seja de travesseiro.
Se existir fome, que seja de amor.
Se for para esquentar, que seja o sol.
Se for para enganar, que seja o estômago.
Se for para chorar, que seja de alegria.
Se for para mentir, que seja a idade.
Se for para roubar, que seja um beijo.
Se for para perder, que seja o medo.
Se for para cair, que seja na gandaia.
Se for para ser feliz...
Que seja o tempo TODO!

(De um perfil do Orkut)

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quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Poeira

Um dia destes enquanto mateava solito, comecei a observar que os móveis estavam cobertos de pó. Lembrei ter ouvido falar que o pó que se acumula nos móveis tem camadas distintas. Olhando bem não notei diferença de camadas, mas uma única e bem espessa.
Como estava para receber visitas, e tinha de dar um jeito na casa imaginei se não seria mais interessante aderir a moda de “virar excêntrico”. Sim, aí eu diria a quem reclamasse que aquele era meu novo modo de viver. Que este pó que os ventos trouxeram, só eles é que poderiam levar de volta.
Será que convenceria? Imagino a cara de espanto de todos a pensar que eu pirei de vez. Mas por outro lado, quanto economizaria por ano? Somente o corte dos gastos com a diarista e com produtos de limpeza daria uma economia daquelas. E , eu poderia comprar um bom vinho toda semana.
Sabe que fiquei mesmo tentado, mas achei que não iria colar. Teria de ser mais convincente: não tirar a barba, não cortar o cabelo e as unhas, e até não tomar mais banhos. Mas logo eu que tomo dois banhos por dia?
É, fiquem tranqüilos por enquanto. Até porque sei que não iriam me chamar de excêntrico coisa nenhuma. E sim de relaxado mesmo.
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segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Mímicas esportivas

Nos tempos de guri, aos domingos ia junto com meu pai no armazém que chamávamos de venda. Nestes lugares invariavelmente tinha uma cancha de bochas, onde ele e seus amigos jogavam até escurecer. Meus amigos e eu jogávamos bola de gude ali por perto. Quando parávamos de jogar, íamos ver o jogo dos pais.
Achava muito engraçado quando meu pai jogava uma bocha, e ela não saía com a direção que ele desejava, ou seja o bolim. Aí ele fazia movimentos com o corpo e os braços dando ordens para que a bola tomasse o rumo desejado. Era uma mímica intensa e desesperadora que ele quase caia pros lados na tentativa (inútil) de corrigir a jogada.
Quantas vezes vendo futebol na tv não nos deparamos fazendo o mesmo. Alem de xingar os jogadores, o treinador e o juiz é claro.
Uma menina me contou que nunca mais olha o jogo junto com sua avó, pois era um suplício a cada partida uma vez que ela jogava junto. E não era só xingar o árbitro, dar intruções aos jogadores. Ela chutava a bola, dave passes laterais e até dribles imaginários. Ela me disse que pra ver o jogo com sua vó só se sentar bem longe ou colocar caneleira.
Fiquei imaginando se ela tambem cobrava lateral, escanteios e pensei: tomara que o juiz não marque pênalti contra seu time.
Vai que o adversário bate rasteiro e no canto...
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sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Estátua

A mulher está na cama com o amante quando ouve o marido chegar.
- Depressa fique de pé neste canto.
Ela cobre o corpo do amante com óleo e talco.
- Não se mexa até eu falar, finja que é uma estátua.
O marido entra e pergunta: O que é isso?
Ela, com a maior naturalidade, responde:
- Ah, é só uma estátua. Os Silvas colocaram uma no quarto deles e eu gostei tanto que resolvi comprar uma pra nós.
De madrugada, o marido se levanta, vai na cozinha prepara um sanduíche, pega uma cerveja e volta pro quarto. Então ele se dirige à "estátua" e diz:
Tome isto: coma e beba alguma coisa. Eu fiquei dois dias como um idiota no quarto dos Silvas e nem um copo d'agua me ofereceram!

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Sogra

O gaúcho chega na delegacia e diz ao delegado:
- Vim registrar uma ocorrência: minha sogra sumiu.
- Há quanto tempo?
- Duas semanas.
- Mas só agora tu vens comunicar a polícia? Os desaparecimentos devem ser comunicados em no máximo 48 horas.
- É que na verdade custei a acreditar que eu tivesse tanta sorte.
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Limpeza

O gaúcho da campanha vai pela primeira vez na capital. Desce do ônibus na rodoviária e depois de cruzar a passarela deslumbrado com a cidade grande lê numa placa: mantenha a cidade limpa, colabore com a limpeza. Sem mais delongas mete a mão na guaiaca, pega 20 pilas e enfia na lixeira.
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Cachorro

Depois de jantar com minhas filhas num restaurante, pedi ao garçom que embrulhasse a carne que sobrou para levar pro cachorro.
Oba - gritaram as duas - Papai vai comprar um cachorro pra nós!
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Jogo do bicho

Minha diarista, senhora de poucas letras chegou um dia toda faceira e cantando. Como estava longe do carnaval achei estranho e perguntei.
- Dona Rigoberta que bicho lhe mordeu?
- Ah o sinhô nem sabe, tô ansim porque bicho nemhum me mordeu não, eu é que acertei nele.
- Ah é?
- Sim magina que ganhei no milhari, é na cabeça. Pena que joguei pôco, senão nem vinha mais limpá sua casa.
- Poxa, mas tivestes sorte então.
- Sorti nada, eu sonhei e joguei o sonho.
- Mas me conta como foi?
- Tipo ansim eu sonhei com pão.
- Pão?
- É só que sonho tem de interpretá. Aí eu pensei o pão vem di ondi? Ué da farinha. Então, a farinha vem di ondi? Ué do trigui. Fui nu boteco e falei pro seu Adão: joga aí dois conto nu trigui.
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quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Dizem por aí:

* - Mais assanhada que lambari de sanga.

* - Linda como laranja de amostra.

* - Enfeitado que nem bidê de china.

* - Gordo igual cachorro de açougueiro.

* - Sério como um burro atolado.

* - Perdido igual cusco em procissão.

* - Atrapalhado como cego em tiroteio.

* - Apertado tal qual rato em guampa.

* - Boi que se atrasa bebe água suja.

* - Montado na razão, não se precisa de espora.

* - Marido de parteira dorme do lado da parede.

* - Gaúcho macho não come mel, mastiga abelha.

*- Cachorro que come ovelha, só matando pra parar.

* - Cavalo dado não se olha os dentes.

* - Se faz de leitão, pra mamar deitado.

* - Se faz de morto, pra comer o coveiro.

* - Se faz de louco, prá andar de ambulancia.

* - Se faz de doente, pra comer marmelada.

* - Se faz de petiço, pra comer milho sovado.

* - Se faz de penico, pra andar embaixo das camas.

* - Se faz de beiço, pra andar nas bocas.

* - Como o cavalo tem seu lado de montar, cada homem tem o jeito de chegar.

* - Mulher, arma e cavalo de andar, nada de emprestar.

* - Comprida como cuspida de bêbado.

* - Mais constrangido que padre em bordel.

* - Ensebado como telefone de açougueiro.

* - Mais por fora do que surdo em bingo.

* - Informado como gerente de funerária.

* - Medroso como velha em canoa.

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terça-feira, 20 de outubro de 2009

Insônia

Sempre ouvia falar dela e ficava curioso. Uns diziam poxa que insônia danada, outros ando com uma puta duma insônia. Pensava com meus botões, mas será que não terei o prazer de conhecer esta dita cuja.
Depois de certo tempo tive uns destes reveses que a vida nos trás. E, com isto ao deitar para aquele sono dos justos ele custava a vir. Era tipo um desencontro, eu deitava e o sono se levantava. Até que demorou tanto que certo dia estava eu ainda acordado até madrugada. De repente a senti. Ali estava ela junto comigo, quem eu tanto tinha ansiedade em conhecer. Querida dona Insônia.
Ah então é você, muito prazer (prazer?), aqui estou. Tudo bem que eu estava curioso e aquele encontro foi marcante, mas depois de certo tempo comecei a enjoar. Pois não é que a dita se engraçou comigo e começou a vir todas as noites, justo na hora que eu queria dormir.
Tentei me livrar dela de várias maneiras: livros, rezas, chá de cidreira, saravás, e nada da danada me largar. Então fui ao doutor, e ele após ouvir minhas angústias sonolentas me disse pra ficar tranqüilo. Receitou-me um remédio para tomar meia hora antes de deitar.
Foi um balaço. Já tinha de engolir a tal pílula e ir me ajeitando, pois senão dormia em pé mesmo. E a coisa ia indo assim até que certo dia me bateu um pensamento estranho. Será que não seria covardia usar uma arma química contra aquela pobre criatura indefesa?
Eu, um homem deste tamanho devia lutar de mano a mano. Fiquei com pena da coitada. Mas também quem mandou ela não me deixar dormir. Depois tinha um vício de chegar sem a gente ver, e entrar não sei por onde. Enfim, é um ser esquisito. Disseram-me que a insônia é produtiva culturalmente. Só se for culturalmente, pois na última noite que passei com ela, no outro dia eu estava no bagaço.
Podem me chamar de covarde, mas não vou abrir mão dos meus trunfos medicinais contra ela. Até já inventei uma artimanha: coloco um comprimido no criado mudo e fico negaceando. Se ela chega seguro o comprimido como se fosse engolir e ela foge igual vampiro corre de alho.
Assim tenho vivido, mas confesso que tenho saudades do tempo que a “querida Insônia” era para mim um sonho, que eu desejava tanto realizar e conhecê-la.
Depois também com tantos homens neste mundo, porque logo eu? Já vi que ela é obsessiva e se encambichou mesmo.
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domingo, 18 de outubro de 2009

Caminhando

Fui caminhar no calçadão, sedentário e fora do tom. Tinha gente que corria, eu só passei uma guria, lenta que parecia, um jabuti de moletom.

Bah! Tô fora de forma hoje eu vi. Na caminhada fui mal, fiz um esforço fenomenal, língua de fora coisa e tal, mas não alcancei nem jabuti!

Caminhei no calçadão, bela tarde de sol. O Jabuti não encontrei, mas na lanterna não fiquei, porque para trás deixei, uma fila de caracol!

É minha performance não é mais a mesma. Como pode um atleta, que cresceu correndo, a pé ou de bicicleta, fixar como meta: ultrapassar uma lesma.