terça-feira, 20 de outubro de 2009

Insônia

Sempre ouvia falar dela e ficava curioso. Uns diziam poxa que insônia danada, outros ando com uma puta duma insônia. Pensava com meus botões, mas será que não terei o prazer de conhecer esta dita cuja.
Depois de certo tempo tive uns destes reveses que a vida nos trás. E, com isto ao deitar para aquele sono dos justos ele custava a vir. Era tipo um desencontro, eu deitava e o sono se levantava. Até que demorou tanto que certo dia estava eu ainda acordado até madrugada. De repente a senti. Ali estava ela junto comigo, quem eu tanto tinha ansiedade em conhecer. Querida dona Insônia.
Ah então é você, muito prazer (prazer?), aqui estou. Tudo bem que eu estava curioso e aquele encontro foi marcante, mas depois de certo tempo comecei a enjoar. Pois não é que a dita se engraçou comigo e começou a vir todas as noites, justo na hora que eu queria dormir.
Tentei me livrar dela de várias maneiras: livros, rezas, chá de cidreira, saravás, e nada da danada me largar. Então fui ao doutor, e ele após ouvir minhas angústias sonolentas me disse pra ficar tranqüilo. Receitou-me um remédio para tomar meia hora antes de deitar.
Foi um balaço. Já tinha de engolir a tal pílula e ir me ajeitando, pois senão dormia em pé mesmo. E a coisa ia indo assim até que certo dia me bateu um pensamento estranho. Será que não seria covardia usar uma arma química contra aquela pobre criatura indefesa?
Eu, um homem deste tamanho devia lutar de mano a mano. Fiquei com pena da coitada. Mas também quem mandou ela não me deixar dormir. Depois tinha um vício de chegar sem a gente ver, e entrar não sei por onde. Enfim, é um ser esquisito. Disseram-me que a insônia é produtiva culturalmente. Só se for culturalmente, pois na última noite que passei com ela, no outro dia eu estava no bagaço.
Podem me chamar de covarde, mas não vou abrir mão dos meus trunfos medicinais contra ela. Até já inventei uma artimanha: coloco um comprimido no criado mudo e fico negaceando. Se ela chega seguro o comprimido como se fosse engolir e ela foge igual vampiro corre de alho.
Assim tenho vivido, mas confesso que tenho saudades do tempo que a “querida Insônia” era para mim um sonho, que eu desejava tanto realizar e conhecê-la.
Depois também com tantos homens neste mundo, porque logo eu? Já vi que ela é obsessiva e se encambichou mesmo.
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